O Ilê Axé Oxalá Talabi dirigido pela Ialorixá Mãe Dada de Oxalá foi vítima de intolerância religiosa durante o mês de maio, o Conselho Tutelar da cidade do Paulista representado pelos conselheiros(as) Mércia Baracho, Renilda Vasconcelos, Joselma Nascimento e Tony Cleiton compareceram no Terreiro acompanhados(as) da força policial do estado de Pernambuco. Nas visitas as conselheiras interrogaram Mãe Dada e a acusaram de cárcere privado, além de ameaçarem a Mãe da menina que realizava o ritual de Bori de perder sua guarda. Relataremos aqui em nosso Blog todo o acontecido e por motivo de respeito a menina de 8 anos, filha de santo do terreiro preservaremos seu nome. No dia 04 de Maio de 2010 a menina foi recolhida para o Ritual de Bori, procedimento determinado pelos Orixás através de consulta ao Ifá (jogo de búzios) realizado pela Ialorixá Mãe Dada de Oxalá, a menina fora aconselhada a fazer o ritual por motivos de saúde e deveria ser iniciada no Axé por determinação de Oxalá. Sua Mãe biológica Lucineide exerce sua fé na religião Candomblé e é filha do Terreiro, com sua permissão e a do pai todo o procedimento ritualístico foi realizado, correndo o mesmo segundo Mãe Dada com toda normalidade e nos preceitos Nagô, a obrigação foi aceita pelo Orí e tudo correu bem. No dia 05 de Maio de 2010, um dia após a realização do Bori, o Conselho Municipal da Cidade do Paulista representado pelas conselheiras Mércia Baracho e Renilda Vasconselos e acompanhado da Polícia Militar do Estado de Pernambuco compareceram ao Terreiro para averiguar a denúncia de que o mesmo realizara rituais de Magia Negra com uma criança. Mãe Dada no entanto contestou o fato e convidou as conselheiras para entrar no Terreiro e verificar com seus próprios olhos que não havia nada fora do comum com a menina, e explicou porque o ritual foi realizado, além de explicar a importância do mesmo para o povo de Terreiro. Mãe Dada constrangida e indignada permitiu que a conselheira Mércia Baracho entrasse no Peji (quarto sagrado dos orixás) para ver que a menina estava bem. A mãe da menina foi solicitada a comparecer no terreiro e deslocou-se do seu trabalho até o mesmo e apresentou a autorização por escrito para que a menina participasse do ritual religioso. Neste momento, a conselheira disse que a menina não poderia permanecer tantos dias assim no local e que isso não ficaria bem dessa forma. Cabe destacar que as conselheiras não apresentaram nenhum documento formal/escrito para realizar a visita ao Terreiro, o que é caracterizado como invasão e também não deram nenhum tipo de identificação das denúncias recebidas. Pertubada com as pressões das conselheiras, Mãe Dada buscou acessoria jurídica ao Observatório Negro de Pernambuco, que enviou uma advogada para lhe auxiliar. No dia 06 de maio de 2010, a mãe da menina autenticou todas as autorizações no cartório da cidade, já que a conselheira tinha ameaçado a mesma de perder a guarda de sua filha se a menina permanecesse no terreiro. Cabe destacar que neste momento todo o prosseguimento normal do ritual religioso foi prejudicado pela intervenção violenta do conselho e da força policial, além de Mãe Dada e toda a comunidade do terreiro sentirem-se feridos e ofendidos em seus princípios religiosos. A advogada acionou o Ministério Público e Mãe Dada foi escutada. No dia 07 de maio de 2010, o Conselho Tutelar retornou ao terreiro com auxílio da força policial, para averiguar nova denúncia, esta mencionando o crime de cárcere privado. A filha de santo do Axé e psicóloga Adriana de Holanda, conversou com a conselheira Mércia Baracho, que afirmou que “a promotora não aceitaria uma situação dessa, com a menina perdendo tantos dias de aula e que ela teria que sair dali naquele dia”. Adriana pediu que fossem apresentados documentos com a decisão do Ministério Público por escrito. O que não foi apresentado. Vários irmãos do terreiro questionaram a nova “visita” do Conselho Tutelar de Paulista já que as mesmas conselheiras já haviam constatado que a menina estava bem e com a autorização da família. A conselheira Mércia chegou a querer conduzir Mãe Dada para o Fórum, falando “Tenho que cumprir o meu trabalho. Pegue suas coisas e a menina para fazermos uma conversa imediatamente com a promotora. Aí fica tudo esclarecido", e a mesma ligou para o advogado da Prefeitura de Paulista para que ele explicasse porque a menina não poderia permanecer no terreiro. A Iakekerê do terreiro Luciany Barbosa falou com o advogado por telefone, o mesmo disse que entendia destes rituais " sei que vão raspar a cabeça da menina e vão retalhar ela, eu sei o que é um bori e posso até lhe dar uma aula sobre isto, destes rituais eu conhesso". No mesmo dia a conselheira Joselma Nascimento adentrou no Pejí o local mais sagrado do terreiro para interrogar a menina sem autorização de Mãe Dada e sem trajes adequados para o mesmo, inclusive usando sapatos. No mesmo dia, Mãe Dada e a mãe da menina registraram na delegacia as ameaças, constrangimentos e impedimento do ritual religioso realizados pelo Conselho Tutelar da Cidade do Paulista. No mesmo momento, as conselheiras se dirigiram a Juíza da infância da cidade para relatar os fatos. Na noite do dia 07 de maio de 2010, as conselheiras retornam ao terreiro de Mãe Dada para lhe “pedir desculpas” e enviar um recado da juíza, de que o “fato que houve ali foi um erro e que ela admirava a religião de Mãe Dada”. No dia 08 de maio de 2010, Mãe Dada foi levada até a Unidade de Pronto Atendimento - UPA da cidade de Paulista para receber atendimento médico devido aos aborrecimentos provocados pela situação descrita, que alterou o seu estado de saúde. Na semana seguinte aos fatos descritos, a conselheira Renilda Vasconselos foi até a residência de Mãe Dada, mas Mãe Dada não estava em casa, segundo a mesma gotaria de propor para a mãe da menina e a Mãe Dada “um negócio que seria bom para todos”. Insatisfeita, a conselheira dirigiu-se até a casa da menina e utilizou o nome do terreiro para entrar na residência, como a mãe da menina estava no trabalho e quem estava em casa no momento da visita era seu pai, a conselheira falou que era da casa de Mãe Dada para o pai permitir a sua entrada, a conselheira entrou na casa e foi direto para o quarto da menina, quando a irmã da menina a viu falou ao pai que aquela era a conselheira. No último dia 29 de Maio de 2010 a conselheira Renilda retornou a residência de Mãe Dada para conversar sobre o acontecido, quem a recebeu foi sua filha e Iakekerê Luciany Barbosa.
É importante destacar que no terreiro, há vários projetos sócio-culturais com as crianças da cidade e que trabalha justamente na desmistificação do terreiro como local impróprio da convivência social. Na semana dos fatos descritos acima, nenhuma criança compareceu as atividades. Aqui em nosso blog divulgamos sempre o movimento cultural do nosso Terreiro.
Para nós neste caso um dos fatores inadimicíveis foi o desrespeito com a pessoa da nossa Ialorixá Mãe Dada de Oxalá e o desrespeito com o nosso terreiro, Mãe Dada já recebeu importantes títulos do Ministério da Cultura no âmbito da cultura e da religiosidade, em 2008 foi contemplada com o título de Mestra da Tradição Oral pelo trabalho espiritual e de transmissão dos saberes de utilização das ervas que desenvolve em seu terreiro e em 2009 recebeu o título de Tuxáua, articuladora de redes sociais, realmente é um desrespeito e uma tentativa de denegrir a imagem de uma representante das religiões de Matrizes Africanas tão importante para nossa religião.
Contamos com o apoio de todos irmãos de fé, sabemos que essa luta não é fácil, mas continuamos em frente em defesa da liberade religiosa que é assegurada por lei. Por fim gostaríamos de agradecer a todos que vem nos apoiando.
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